Nau dos desesperados
Sinto em meus ombros
o sustentar da cruz... Na minha voz, passos trôpegos, rumor de correnteza. Meus olhos, imenso Oceano. E minha vida, a nau dos desesperados, mortos em seu convés. Os tripulantes mataram-se uns aos outros e o único que restou, fui eu! Minhas mãos manchadas, vestes tingidas de vermelho... Será que devo crer num sentido para a existência? Sou o último, sobrevivente, daquela nau, onde tantos gritaram de dor... Deus os fitou... Mataram-se uns aos outros! A mim, somente uma saída: abrir os braços e lançar-me ao mar... ser mais um! Vejo seus rostos em agonia chamar pela morte rápida, fechar os olhos, partir! E eu? ainda vivo.... ouvindo o vento bater em minhas folhas e as arrancar... O vento é o som dos gritos dos tantos pobres coitados, que vejo aos escrever estes versos... e seu sangue, clorofila! O barco começa a afundar...
Valeska Caffarena
Enviado por Valeska Caffarena em 14/05/2024
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